Chuva castiga mineiros, enquanto telejornais mostram a força do jornalismo colaborativo

setembro 17, 2008


Foi de uma hora para outra. Pegou muitas pessoas desprevenidas. Na tarde desta última segunda-feira (15/09), por volta das 14h, foi se formando um amontoado de nuvens cinzas que foram encobrindo a Serra do Curral, um dos cartões postais de Belo Horizonte, e logo, logo, deixou a capital dos mineiros debaixo de chuva. E que chuva. Foi uma senhora tempestade que deixou não só BH debaixo dágua, mas várias cidades mineiras. Carandaí, na região central de Minas, decretou situação de emergência pública e teva várias casas com telhados totalmente destruídos pela tempestade de granizo. Contagem, Betim e Esmeraldas, municípios da Grande BH, também sofreram com a falta de energia elétrica e vários imóveis, automóveis e lojas destruídas pelo fenômeno da natureza das pedras de gelo.


Hoja à tarde os belohorizontinos sentiram a força do granizo com mais intensidade. Aproximadamente às 15h, vários bairros ficaram totalmente cobertos por uma camada branca dura de gelo, que lembrava as ruas típicas de um país que neva, como na Argentina - nosso país vizinho, que tem como um dos destino famoso as montanhas de Bariloche, frequentada por milhares de brasileiros. No final do alvoroço, as pedras de gelo, ao longe, parecia neve. Deu um certo ar sofisticado e estrangeiro. Tivemos um dia atípico. A natureza, que por toda sua beleza, foi o principal destaque de todos os noticiários, seja para falar das tragédias e prejuízos causados, seja para "brincar" com esse "estilo europeu" que deixou os jardins de Belo Horizonte mais gelados - e mais brancos.

O que alguns especialistas em comunicação apontam como nova tendência dentro do jornalismo, e os "dinossauros" das redações, não todos, mas os velhos de guerra, ainda relutam em usar, são o material audiovisual enviado por telespectadores. Nesse caso em especial, onde uma mudança climática afetou a vida de milhares de pessoas, nada mais justo (e democrático), usar o conteúdo enviado pelo público e organizá-los de modo que o telespectador consiga ter o registro daquilo que aconteceu na sua região.

Em matéria de organização e participação dos telespectadores, a TV Alterosa deu um show à parte. Mostrou a utilidade do jornalismo e deu crédito a todos que enviaram material. Claro que, por uma questão de tempo, o Jornal da Alterosa - 2ª Edição, exibido de segunda-feira à sábado, das 18h50 às 19h20, e apresentado pela jornalista Fernanda Moura, não mostrou todos os videos e fotos enviadas. Condensou as mais interessantes para o jornal e disponibilizou no Portal Uai as restantes. O mais bacana é ver como o conteúdo do Estado de Minas, Portal Uai e site da TV Alterosa conseguem fazer essa convergência midiática entre jornal impresso, TV e Web, de maneira tão atrativa e que consegue dar ao público um conteúdo bem apurado e preocupado em prestar serviço à sociedade.


Um relato inusitado e atrativo que encontrei, ao assistir o telejornal, foi o da repórter Maíra Lemos, que entrou ao vivo, para falar da experiência que ela e a equipe sofreram ao se depararem com o granizo. Isso pode parecer besteira para alguns, mas para quem está em casa assistindo, ou para quem trabalha (ou já trabalhou) com reportagem, é sempre bom ouvir esse tipo de relato que humaniza a profissão do jornalista. Maíra é repórter do Alterosa Esporte, um programa sobre futebol, exibido de segunda à sexta-feira, de 12h às 12h30, na TV Alterosa e apresentado por Leopoldo Siqueira. Ela foi cobrir o treino do Cruzeiro, na Toca 2, próximo à Lagoa da Pampulha. No meio do caminho, a equipe de reportagem foi surpreendida pela chuva de granizo. Os cubos de gelo, do tamanho de pedras, amaçou o carro da equipe, danificou lataria e vidros. Muita gente que mora na região da Pampulha (ou passava por lá) também sofreu isso.


Não sei da história completa da Maíra, por não conheçê-la, e muito menos ter conversado com ela, mas suponho que o feeeling de jornalista falou mais alto e ela mudou totalmente a sua reportagem. Claro, com o granizo, não haveria mais treino. Ela ainda não estava na Toca 2, mas ela e a equipe entraram num clube, próximo ao local para se proteger, pois já houve registros aqui em Minas, nesses três dias, de carros completamente destruídos após a chuva. A repórter e a equipe entram num famoso club que fica na orla da Lagoa para se protogerem da chuva e aproveitaram para fazer a matéria sobre o acontecido. Não só registraram o fato, como pegaram uma quadra de grama sintética completamente coberta pelo granizo, como se tivesse acabado de nevar. Colheram depoimentos de pessoas do clube e um menino que achou uma pedra de gelo bem grande, do tamanho aproximado de uma bola de tênis.


Muitos leitores podem achar isso óbvio. Afinal, ela é uma jornalista que atua como repórter. Mas esse assunto não era da área dela. Maíra podia muito bem virar para o seu chefe de reportagem e falar que não dava para fazer a matéria do cruzeiro por causa da chuva. Isso acontece demais nas redações. Tem repórter que se errar o endereço ou o entrevistado furar, não faz a matéria e volta de mãos vazias para redação. Ela foi ousada e trouxe material que lhe rendeu uma participação ao vivo para falar dentro do noticiário uma experiência pessoal em torno da chuva de granizo. Bom, o meu elogio pode ser efadonho e a história pode ter sido outra: o chefe de reportagem pode ter ligado pra ela e pedido material sobre a chuva e ter mandado cair a matéria do Cruzeiro. Enfim, isso não importa. Mas o caso dela ilustra algo que os jornalistas precisam se voltar mais: olhar mais para as coisas da cidade, do que para o próprio umbigo.


Todos os telejornais mineiros, à sua maneira, cobriram de forma brilhante os estragos causados pela chuva de granizo. Mas falar só dessa parte de tragédia, deixando de lado a prestação de serviço, a incitação do debate em torno do tema e trazer a reflexão do que é possível fazer, seja por meio de uma ação solidária, individual ou questionando as autoridades públicas que deveriam melhor se posicionar em torno do acontecido, e nada fazem, é triste. Jornalismo não é só audiência: é público, é telespectador, é ser humano. Falamos do ser humano todos os dias. Não podemos esquecer disso. Uma matéria não é só feita de personagens: há pessoas que merecem ser respeitadas e ouvidas, cuja a história ilustra uma série de tantas outras que podem ter acontecido com você, com um familiar, amigo ou vizinho.


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22 comentários

  1. Acho que isso é uma tendência dessa nova geração de produção jornalística - copilar e organizar o conteúdo enviado pelo público. Torço para que isso ganhe cada vez mais espaço nas redações. Meu voto no The Bobs já é seu. Beijos, querido.

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  2. Blog interessante: Parabéns...

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  3. Aqui no RJ existe uma rádio BANDNEWS FM (94.9), que se propõe a fazer esse tipo de jornalismo humano q vc se referiu. O programa da manhã, com o Ricardo Boechat, é uma delícia de ouvir.

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  4. Tudo parece realmente estar uma loucura... e o tempo nao é diferente! Pega a gente meio desprevenido!!
    Otimo texto...
    parabéns pelo blog!
    otimo dia!

    Lê =)

    http://lefamily.blog.terra.com.br/

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  5. Estou horrorizada até agora com essa chuva...destrui as janelas do meu carro, enquanto ia trabalhar. Passei um sufoco. Adorei o seu jeito de comentar as notícias.

    Muito legal!

    ^.^

    Bjs

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  6. Pultz!!
    Imagino como tá friiiioo aii!!!!
    Caraaaca aqui tá quente deeeemais! qnte meeesmo, eu qria frrrrio!! rsrs
    Obrigada pelo carinho!!
    Beijoooooooooos

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  7. Eu vi pela Globo em São Paulo a chuva e os estragos feitos...realmente impressionantes.
    Qto a cobertura feita pela Globo é aquela de sempre, link em locais diferentes com alguns repórters...acho que o dinamismo está tomando conta e quem for ágil e trazer o que não for o óbvio saí na frente na disputa do IBOPE

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  8. Olá Wander,

    Venho retribuir a sua visita no meu cantinho. Muito obrigada pela palavras de incentivo a minha arte! E eu também espero vender muitos "Papais Noel" de Cabaça esse ano!

    Muito legal seu blog e seu trabalho como jornalista,sou mineira tb, mas no nosso estado não tive apoio para seguir com minha profissão, aí vim buscar novos rumos nas terras Capixabas.

    Aqui sinto falta de pessoas que realizem o trabalho parecido com o seu, nós mineiros sabemos valorizar muito bem nossa terra e nossa cultura.

    parabéns mais uma vez!

    abraços,

    Larissa Guimarães
    www.larissaguimaraes.com.br

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  9. eu só vi isso uma vez, mas era mt pequeno... deve ser mt ruim msm.

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  10. Nesse blog se respira jornalismo. E eu como jornalista, estou em casa aqui. Vai ser ruim de me tirarem daqui algum dia.
    Cumpade, adoro vc! Nao tem o que dizer, eu fico emocionada com o teu esforço de desfolhar a profissao com generosidade, como um grande professor, que observa, aprende e ensina.
    Beijo grande!

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  11. Só falando da chuva, aqui em Divinópolis dia 30/08 aconteceu uma parecida... ou pior. As ruas da cidade ficaram parecendo Londres, tudo branco. BH só copiou, hahahaaha... zuera
    Abraço
    http://falandoprasparedes.blogspot.com

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  12. Blog simplesmente informativo.
    Adoro *-*. Espero sua visita, um grande abraço e boa sexta :D

    http://tiomah.blogspot.com

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  13. Parabens pelo seu blog.. show... bjusss

    http://crisjornal.zip.net

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  14. Enquanto aí chove gelo, aqui em Brasília não chove há meses... está insuportável!

    Excelente blog. Parabéns

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  15. Wander,

    uma vez eu vi uma dessas chuvas de granizo em minha cidade... uma coisa horrorosa. O que amassou de carro, telhado que quebrou... no final, havia uma camada de gelo sobre a calçada. Eu era criança e me divertia pegando uns pedregulhos que se fosse hoje eu teria ficado arrasado... ai meu carro!

    A cobertura desse fenônemo em Minas foi nacional...

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  16. Você pode até me chamar de materialista, mas quando eu vi na TV notícias sobre esse temporal de pedras, duas coisas (terríveis) me vieram à cabeça:
    01. Chuvas de granizo começam a se tornar freqüentes no Brasil, podendo ocorrer em qualquer lugar em qualquer época do ano.
    02. As seguradoras não cobrem estragos provocados pelas pedras vindas do céu, não pelo menos no meu carro.
    Ou seja, é bom começar a me preocupar.

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  17. Também sou de MG... Conheço ela, acho uma ótima jornalista. Inclusive a vi no Jornal da Alterosa algumas vezes, tem um excelente presença, além de tratar os assunto de maneira certeira...

    E a chuva foi terrível, aqui na minha cidade, Santos Dumont, também tivemos temporais, mas não neste nível...

    Abraços,
    Tatiana C.

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  18. Wander, passando pra dar um oi.

    Sabe, por aqui também cai muita chuva de granizo nos arredores da serra, uma situação triste. Muitos produtores rurais perderam tudo e há um contingente de desabrigados ainda considerável. Mas a solidariedade tem sido reconfortante, como pude presenciar ao ir doar roupas no corpo de bombeiros e encontrar uma verdadeira montanha.

    Esperamos que a solidariedade seja suficiente, aqui e aí.

    beijo,
    Carla

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  19. Nossa,essa chuva deu o que falar aqui em Bh, estava na rua,quando começou a chover e nunca fiquei com tanto medo de me machucar!
    Muito medo mesmo!
    Foi de assustar, houve prejuízos,como sempre,pra maioria pobre,mas vi várias fotos lindas.
    E o jardim da minha casa,ficou lindo,todo branquinho.
    Abraços

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  20. Olá Wander, estudo em Viçosa e por aqui também ocorreu o relatado em outras cidades mineiras. Fato que, como capixaba que sou, me deixou surpreendido.
    Agora, quanto ao fato do jornalismo, isso me deixe muito entusiasmado. É bom saber que a mídia passa, aos poucos, a se preocupar com mais atenção com a população. Que o relatado não seja apenas um fato isolado.
    Valeu,
    All3X

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  21. Olá! eu sou a Maíra Lemos, repórter da tv Alterosa.
    Infelizmente, estou um pouco atrasada, mas mesmo assim, gostaria de responder! Realmente muitos jornalistas viram os olhos pros acontecimentos extra pautas ignorando, geralmente, os
    assuntos mais sensacionais. Eu passo longe de ser um deles. Pelo contrário, acho que sou até empolgada demais... tenho que me segurar pra não descer do carro, de repente, todos os dias!
    Naquele dia, a iniciativa de parar o carro e correr pra fazer um vt pro jornal foi minha (até pq se eu fosse telefonar pra redação,etc... o gelo já teria derretido, né?) Bom, não só fiz o vt do granizo, como fui até a Toca da Raposa registrar a chuva por lá e entrevistar os jogadores sobre o "susto" com a chuva durante o treino. Aí tive que contar com a ajuda essencial do meu motorista Maurício, que correu para chegarmos em tempo da matéria ir ao ar no jornal (lembro dele me apressando: "matéria boa é a que entra!"). Ao chegar na redação com o material já fechado, a Fernanda, apresentadora na época, teve essa tal sensibilidade de valorizar a estória e me convidar pro vivo do jornal.
    Passei um aperto 'daqueles', mas a adrenalina valeu e eu fui embora pra casa com a sensação de ter feito tudo o que pude! Quem dera fosse assim todos os dias...
    Um grande abraço
    Maíra Lemos

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