A TV aberta está de olho na nova Classe C

maio 26, 2011



Isso não é de hoje. Para falar a verdade, acredito que foi acontecendo aos poucos e explica muita coisa que vem acontecendo na parte editorial e de produção de conteúdo na televisão. Há cerca de uns seis anos atrás, o telespectador pôde sentir uma mudança brusca na programação da TV aberta, especialmente na Rede Globo e na Rede Record. 


Concorrentes diretas, porém com linha editorial distinta, ambas estão encabeçando um movimento que já está refletindo na audiência: o investimento na nova Classe C. Trata-se de telespectadores que, somados a Classe D e E, formam 80% do público que gastam tempo na frente do televisor e, acima de tudo, são formadores de opinião e estão dispostos a consumir. 


No final da década de 1990 e início da década de 2000, as TVs ensaiavam abraçar a Classe C, colocando algumas faixas de programas mais populares, mas não se esqueciam da Classe AB, mais elitizada e também formadora de opinião. Com o crescimento da banda larga (internet) no país e a variedade de canais da TV Paga, a Classe AB se distanciou um pouco da TV aberta, mas não totalmente. Cientes desse período de transição, os executivos de televisão encomendaram pesquisas para saber qual público passa mais tempo na frente do televisor e o que esse telespectador quer ver. A resposta foi uma só: a Classe C quer se ver retratada na TV.

Isso explica também a virada que a Rede Record deu no seu projeto de “caminho da liderança”. Atenta a esse emergente e essencial público, a emissora entrou de cabeça na onda da popularização - principalmente, no jornalismo e na programação local, deixando de ser um espelho do Padrão Globo de Qualidade para criar um padrão próprio focado no jornalismo policial, investigativo e que abre espaço para dar voz aos anseios da comunidade. Há quem diga que esse padrão “mais sensacionalista” tem o seu preço, mas o fato é que a Record, por caminhos tortuosos, encontrou o seu padrão.

Por ser pesquisador e entusiasta da cobertura televisiva (e das demais mídias eletrônicas), a minha ficha caiu em relação a importância da Classe C para a TV aberta na entrevista em que o jornalista e blogueiro @mauriciostycer fez com o diretor geral da Rede Globo, Octávio Florisbal, para o UOL. Sincero, Florisbal foi taxativo sobre a importância de fazer pesquisas para melhor atender a Classe C na TV aberta. “São pesquisas para nossa reflexão interna, para orientar a área de criação e de jornalismo (...). Estes 80% das classes C, D e E têm uma vida própria, com características próprias. Nós precisamos atendê-los”, afirma Florisbal. Para ler a entrevista completa, clique aqui.
O diretor geral da Rede Globo, Octávio Florisbal, em entrevista para o UOL,
deixa claro que a TV aberta está de olho na Classe C. Foto: TV Globo/Divulgação.

O executivo da TV Globo ainda fala à Maurício Stycer sobre esse novo foco na área de produção de conteúdo. "No passado, você não tinha que se preocupar tanto. ‘Estou fazendo uma televisão para todos, mas com foco em classe média’. Hoje, não. Atenção. Eu tenho que fazer para todos. Aquela divisão de que 80% do público é das classes C, D e E continua, mas eles têm mais presença, mais opinião. Eles ascenderam. Têm um jeito próprio de ser. Você tem que atendê-los melhor. Eles têm que estar mais bem representados e identificados na dramaturgia, no jornalismo. Antes, você fazia uma coisa mais geral. Hoje, não. A gente tem que ir, principalmente nos telejornais locais, ao encontro deles. Eles têm que ver a sua realidade retratada nos telejornais. Eles querem ter uma linguagem mais simples, para entender melhor".

Florisbal também comenta sobre o poder da internet como mídia. "Entendo que a TV aberta num arco de tempo de dez anos vai continuar como líder. A nossa aposta é que a internet será a segunda maior mídia, em participação, daqui a dez anos. Ela vem crescendo de maneira exponencial. Hoje ela representa 5%. Já passou cinema, outdoor, rádio. Está se aproximando muito de revistas, que é 7%. Jornal aqui é 13%. Com o plano brasileiro de banda larga, com mais renda para as pessoas, a internet tem realmente uma expectativa de crescimento exponencial, como tem tido. Vai ser muito bom para todos. Quem é que vai prevalecer? Em cada meio, vão prevalecer aqueles que oferecerem melhor conteúdo".

E, para finalizar, na segunda parte da entrevista, Florisbal fala sobre o futebol na TV aberta. "Nós temos uma parceria, ou tínhamos, lamentavelmente, com o Clube dos 13 de muitos anos. Nós conseguimos ao longo do tempo, com muito sacrifício, montar uma grade de futebol que, acho, não tem em nenhum outro país. Vamos pegar o Brasileiro. De cada dez jogos da rodada, a TV aberta tem direito a três jogos. Reclamam que a gente não passa determinado jogo. Mas a gente só tem direito a três jogos. Um a gente faz para São Paulo, outro para o Rio e o terceiro a gente faz rodízio – uma semana para Porto Alegre, uma semana para Belo Horizonte, outra semana para Curitiba... A TV paga, o SporTV, faz dois jogos, em outros dias. E o pay-per-view faz os dez jogos", explica.





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Jornalista

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3 comentários

  1. Muito interessante esse post de hoje aqui no blog. Isso explica essa onda popularesca que incedeia a TV aberta, principalmente na Record e na Globo. Vou ler a entrevista do Florisbal!

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  2. Nunca tinha parado para pensar que essas mudanças que estavam acontecendo na Tv tinham a ver com essa busca pela Classe C. O que me assusta como telespectador, pra falar a verdade, é o vale tudo em nome da audiência....todo mundo perde com isso, principalmente o público.

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  3. É isso mesmo, senão a classe C resolve pensar por si mesma e acaba se desligando da TV e é aí que mora o perigo. Eles só tem que achar que pensam, mas continuar sendo dirigidos. O sistema agradece.

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