Bastidores de uma reportagem sobre Pessoas Desaparecidas

agosto 18, 2009



A vida de repórter tem me ensinado muito, principalmente como jornalista e ser humano. No ano passado, mais precisamente na edição de novembro de 2008, da extinta Revista Diário de Bordo (atual Revista Vox Objetiva), publicação na qual trabalho como repórter, tive a oportunidade de fazer uma matéria investigativa sobre pessoas desaparecidas, tendo como pano de fundo a história de um personagem da vida real que parece ter vindo direto de um enredo de uma telenovela. Fui incubido de contar o caso da empresária Fabiana*, que está há mais de 10 anos fazendo o caminho inverso de muitas pessoas que procuram por entes queridos desaparecidos: ela procura os seus pais verdadeiros.

De acordo com as investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, tudo indica que Fabiana* teria sido roubada dos seus pais biológicos, ainda bebê, e adotada pelos seus pais de criação. Mas também existe a hipótese dela ter sido dada à família que a criou. A linha de investigação é ampla e, ao que tudo indica, está cada vez mais difícil fechar o quebra-cabeça. Mesmo depois de nove meses da reportagem publicada, Fabiana* continua a procura por seus pais biológicos. Veja abaixo uma matéria sobre o lançamento da campanha de buscas de pessoas desaparecidos do Governo de Minas Gerais:



Na época, durante a reunião de pauta, meu editor deixou bem claro que a missão iria me exigir paciência e muita dedicação, pois a fonte (Fabiana*) estava reticente em não queria dar entrevista para nenhum veículo de comunicação, pois ela temia expor a sua vida íntima para o público. Hoje, Fabiana* se encontra casada, possui filhos e é uma profissional conhecida em Minas Gerais. Os primeiros contatos foram difíceis. Ganhei respostas curtas e grosseiras de Fabiana* que não queria expor a sua vida. Então, resolvi fazer o caminho inverso. Procurei a Delegacia de Pessoas Desaparecidas de Belo Horizonte (MG) para conversar com a delegada Cristina Coeli, que é responável pelo caso e com quem Fabiana* tinha total confiança.


Dra Cristina me contou que Fabiana* já tinha se decepcionado muitas vezes com a procura pelos pais e passou por um período de depressão. Já há bastante tempo ela contratou detetives particulares para o caso - que trabalham em paralelo com os investigadores da Polícia Civil, e chegou a fazer alguns testes de DNA, mas todos deram negativos. Além disso, Fabiana* tinha passado por uma experiência desagradável com um colega de imprensa que não a respeitou e teria veiculado informações pessoais dela na matéria e dados que eles tinham conversado apenas em off. Isso teria acontecido há aproximadamente uns oito anos atrás, logo no início das investigações. Depois de conversar comigo, Dra Cristina topou em ser a ponte para um possível bate-papo. Tive que ter paciência. Em contra-partida, a revista tinha me dado três meses para ficar por conta dessa pauta, então pude investir em pesquisa sobre "Pessoas Desaparecidas" e me inteirar mais sobre o assunto.

Não tive uma, nem duas conversas com Fabiana*. Foram várias. Por compreender o drama pessoal dela, entendi as razões pelo qual ela se negou a falar com mais detalhes à imprensa. Nos tornamos amigos, pois somente na base da confiança é que ela aceitaria dividir essa história com os leitores da revista. Deixei bem claro para Fabiana* que só iria publicar aquilo que ela me permitisse. Quis passar segurança para ela. Cheguei a ponto de não passar o contato pessoal dela para ninguém, muito menos o nome verdadeiro, inclusive para o meu editor.

A matéria chegou a ter uma certa repercussão e alguns veículos entraram em contato comigo qurendo também cobrir a história, mas Fabiana* não quis. Expliquei para ela que emissoras de TV se interessaram pelo caso, mas mesmo assim ela continuou firme e me disse que seria o único jornalista que ela tinha confiança em conversar sobre o caso. Fabiana* me garantiu que se algum dia ela encontrasse os pais eu seria o primeiro a noticiar. Isso me deixou bastante contente! Além disso, a reportagem foi muito elogiada pelos leitores da revista e pelo meu editor.

Assim como Gay Talese ou Truman Capote, que são célebres jornalistas que "vivem" a reportagem, também me permitir viver esse drama com Fabiana*, ao contrário do que as escolas de Comunicação pregam que o jornalista deve ter um distanciamento da fonte. Cada caso é um caso. Aprendi muito, principalmente o quanto é importante respeitar a fonte. Não devemos passar por cima das pessoas por causa de uma notícia. Tem que haver respeito dos dois lados.

Ao mesmo tempo, conheci pessoas maravilhosas como Nicholas Gimenes e Ornela que realizam um trabalho super bacana de divulgação de pessoas desaparecidas na internet. E por fazer mensalmente o Jornal Institucional do Shopping Oiapoque ofereci para a Delegacia de Pessoas Desaparecidas de Minas Gerais o espaço para publicar duas fotos por edição de jovens ou adultos desaparecidos. Atualmente, na base da página do Café com Notícias, está publicado um aplicativo que divulga fotos de pessoas desaparecidas, criado por Nicholas e que todo webmaster ou blogueiro também pode publicar. Para inserir este aplicativo, clique aqui. Me envolvi de forma positiva com o caso, pois a divulgação de fotos pode ajudar muito familiares ou amigos na procura de entes queridos. Creio que todo meio de comunicação, principalmente blogs e sites, deveriam abrir um pequeno espaço para divulgar pessoas desaparecidas como forma de prestar serviço à sociedade. Veja o vídeo abaixo da campanha "Volta" com intuito de sensibilizar as pessoas a respeito das buscas de pessoas desaparecidas:



Ainda, em conversa com a Dra Cristina Coeli, responsável pela investigação dos desaparecidos, caiu-se o mito de que é preciso esperar 24 horas para o início das buscas. "Isso é uma lenda que as pessoas tomaram como verdade. Quanto mais rápido o familiar do desaparecido acionar a polícia, munido de documentos e fotos, para lavrar o boletim de ocorrência, mais chance teremos de localizar essa pessoa", conta. Então, sábado (22/08) será publicado a reportagem sobre pessoas desaparecidas e que dá destaque para a história da empresária Fabiana* que procura pelos pais. Não perca!!! Quer saber de mais detalhes? Siga-me no Twitter.


*Fabiana é um nome fictício da personagem contada nesta história. Por motivos pessoais, ela não quer se identificar.




Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.






Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

16 comentários

  1. Não consigo imaginar a dor de ter um filho ou parente ou amigo desaparecido. Acredito que seja ainda pior do que saber que faleceu. Qualquer campanha em prol dessa causa merece elogios. Parabéns por mais essa, Wander!
    Abraços

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi Wander, é complicado...
    são tantas as histórias como a de "Fabiana", mas, sabe, conheci uma pessoa que conseguiu achar os pais biológicos, mas, ao contrário de Fabiana, ela "colocou a boca no trombobne"... falou com todos que se interessaram por sua história,não foram pessoas de jornais, TV etc...imagino que se ela tivesse tido o apoio de jornalistas sérios como você, teria achado os pais muito antes....
    abs

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  4. Ola Wander. Me recordo vagamente desssa matéria mas fico feliz que tudo deu certo pra vc fazê-la.

    Engraçado qdo um jornalista se envolve a ponto de conquistar confiança do entrevistado, afinal, é uma dor e algo pessoal da vida dela que está sendo desbravado. E aí que entra a ética e o profissionalismo do jornalista, que acima de tudo é um ser humano que muitas vezes se compadece a dor do proximo e procura ajudar da melhor maneira q ele sabe fazer. Essa pelo menos é a minha visão.

    Gde abraço, e q mais materias tocantes como essa façam parte da sua vida, assim vc tb terá muitas histórias pra contar.

    Abçs!!!

    PS: apaguei o outro pq tinha colocado sobre um comentário mas foi de outro...hehehe

    Qdo puder, dá um conferida no meu blog. Tb postei sobre a guerra GloboXRecord

    http://blogpontotres.blogspot.com/

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  5. O bom da profissão é quando você entra em contato com o caso e com quem faz parte dele, imagino o quanto você deve ter aprendido com essa e outras matérias, é sinal que você um ótimo profissional.

    BLOGdoRUBINHO
    www.blogdorubinho.cjb.net
    www.twitter.com/blogdorubinho

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  6. nossa parabéns,vc faz um trabalho muito bonito

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  7. Que luta pra uma reportagem bem feita.
    Quem dera fosse sempre assim.
    Há jornalista hoje em dia que não tem essa preocupação e passam por cima de qualquer pessoa para conseguir "furos".
    Boa sorte na suas empreitadas e parabéns pelo trabalho!

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  8. Bom, Nao existe outra palavra a ser dita se nao for isso é um dom natural, é complicado de imaginar uma pessoa que nao tem estrutura emocional, etica e ainda saber lidar com a dor ou alegria de outrem sem se envolver na sintonia que a pessoa entrevistada..... Se manter tao perto e ao mesmo tempo distante, só pra quem tem o dom da coisa mesmo, parabéns!

    Se puder visite o meu

    http://euvoustar.blogspot.com

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  9. deve ser mt ruin ter alguem proximo desaparecido
    bela materia

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  10. Mas toda luta tem uma recompensa no final.
    Vale a pena vc lutar por aquilo que acredita e que acha certo.
    Eu não gosto nem de pensar se perdesse alguém da minha família, ou não conhecesse os meus pais...

    Que te parabenizar pelos seus atos.
    Desejo mais e mais sucesso!!! Abração

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  11. Wander boa tarde!!
    Parabéns por sua profissão!
    Na vida profissional passamos por muitas experiencias que nos fazem crescer muito como profissionais e pessoa.

    bjos

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  12. Nossa
    Imagino como deve ser dificil entrevistar pessoas que passam por situações como essa. Creio que querendo ou não você passa a fazer parte da história, quer ajudar de toda maneira. Que bom que você conseguiu entrevistá-la e tudo mais! Parabéns, você é um ótimo jornalista!

    http://cerebro-musical.blogspot.com

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  13. Graças a Deus nunca vivi esse drama. Mas posso ter uma vaga ideia do sofrimento e do desespero que atormenta esse pessoal.

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  14. É interessante, não nesse caso da Fabiana*, mas em casos de desaparecidos em geral.
    Pode ser que o que eu escreva aqui não tenha nada haver com o post, ou nada com nada na real.
    Mas creio que algumas vezes as pessoas que desaparece, desaparecem por um motivo, algumas vezes por que percebem que é melhor desaparecer do que continuar a vivenciar certas coisas.
    Espero que a Fabiana* encontre seus pais e que muitas outras pessoas encontrem seus parentes se assim esses parentes desejarem e as pessoas que desapareceram desejar.
    Tenho até os slides de fotos em meu blog.
    Mas não sei por que deu vontade de comentar aqui, acho que é por que entendo de certa forma a cabeça de uma pessoa que desaparece por que quer, apesar de não ter desaparecido.
    Anyway, deixa esse comentario pra lá.

    Muita sorte pra Fabiana*

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  15. Deve ser muito triste e completamente dolorido aquela família que tem alguém desaparecido. Nao consigo imaginar isso acontecendo comigo, é uma dor que eu talvez não pudesse suportar. Talvez a perda por um alguém qrido é menos sofrido, pq qndo alguém desaparece passa muitas coisas em nossa mente, sem saber como ele Está, se está bem, se está se alimentando... e tantas outras coisas...
    Acho isso muito bacana, lutar para encontrar alguém que desapareceu!!^^

    Beijos, Amigo

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  16. ESTOU COM A MINHA MÃE DESAPARECIDA EM BH DESDE 24/04/2009, MINHA BUSCA É CONSTANTE ELA JA ESTA DE IDADE AVANÇADA POIS ELA TEM 70 ANOS, CONTO COM A AJUDA DE TODOS QUE SE DISPUSEREM A ME AJUDAR. O NOME DELA É MARIA APARECIDA LOPES DOS SANTOS RESIDENTE NA CIDADE DE TÉOFILO OTONI MG , E EU SOU FILHA DELA , MARISA , MEU ORKUT É: maraartesan@hotmail.com , A FOTO DELA SE ENCONTRA NESSE ENDEREÇO E TAMBÉM NAS CONTAS DE ÁGUA-LUZ ,NOS MESES DE 06/10/2009 , 08/09/2010. QUALQUER INFORMAÇÃO ME ADICIONE... DESDE DE JÁ AGRADEÇO . 20/01/2010 22:45

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